Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo ---
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?
Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante ---
Manhã tão forte que me anoiteceu.
De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos
e canta
o êxtase do dia.

8 comentários:
Linda imagem, bem descrita por Eugénio de Andrade
Beijo
Olá Alcinda
Belos poemas.
Vou aqui deixar-lhe um, de alguém que já partiu...
"ACONTECIMENTO
Não pedi para nascer!
Nasci, aconteceu!
Aconteceu um dia
ao fim da tarde
com chuva,
muito vento, tempestade...
Tenho por madrinha a chuva
e por padrinho o vento,
e os dois, cá dentro, num eterno turbilhão,
rodopiam,
rodopiam,
fazem cones
sem parar.
Estou cansada de os ouvir gritar...
Estou cansada de lutar com eles...
Estou cansada de os acompanhar...
Porquê, aconteceu há trinta anos,
no dia em que nasci,
um ciclone?.
PT."
Beijinhos e parabens, mais uma vez.
Leandro.
Cada vez que por aqui dou passo
com poema novo, me enlaço...
lindo passeio que eu faço!
lindos os momentos de poesia
que transformam dias de cansaço
e nos dão um belo abraço!
Eu deixo aqui meu beijinho
e espero Primavera com carinho!
Mo meio de um lindo poema venho deixar-te um ramo de flores perfumadas, e um sorriso primaveril.
Beijo
Bé
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
NÃO QUIS deixar de ler hoje um poema ao acaso, esaiu-me este.
Bonito...não!!!
BEIJO Amiga e Boa Viagem de regresso
Boa noite.
Belo poema de um grande da literatura em língua portuguesa.
Saudações.
A Poesia hoje passa com Florbela Espanca ao acaso:
"Os versos que te fiz"
-queria dizer assim, como lá diz-
E Fernando Pessoa...
"Ah poder ser tu sendo eu!"
-a sombra ser leve, e ser eu-
E tão bela,
está qualquer dela...
Venho só dizer que a semana passou
A primavera já chegou
e a "Soma dos dias" não voltou...
E deixo um bejinho!
Eugénio de Andrade... Foi um dos poetas aqui da minha zona... :)
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