Matança dos Inocentes, presépio Machado de Castro e lá está o feio bicho, o tal das tranças de que o poeta nos fala História Antiga
Era uma vez, lá na Judeia, um rei. Feio bicho, de resto: Uma cara de burro sem cabresto E duas grandes tranças. A gente olhava,reparava e via Que naquela figura não havia Olhos de quem gosta de crianças. E,na verdade,assim acontecia. Porque um dia, O malvado, Só por ter o poder de quem é rei Por não ter coração, Sem mais nem menos, Mandou matar quantos eram pequenos Nas cidades e aldeias da Nação. Mas, Por acaso ou milagre,aconteceu Que num burrinho pela areia fora, Fugiu Daquelas mãos de sangue um pequenino Que o vivo sol da vida acarinhou; E bastou Esse palmo de sonho Para encher este mundo de alegria; Para crescer, ser Deus; E meter no Inferno o tal das tranças, Só porque ele não gostava de crianças.
Este presépio em terracota policromada é uma obra de referência nacional do século XVIII (cerca de 1782/83). Tem um total aproximado de 500 figuras e encontra-se montado numa estrutura de madeira e cortiça. Tal como nos outros presépios barrocos tem representados seis monumentos:a Natividade como cena central,a Adoração dos Reis Magos; a adoração dos pastores e populares,o Cortejo Régio, a anunciação aos pastores e a Matança dos Inocentes. O espaço restante é preenchido por figuras do povo em cenas da vida quotidiana. Cinco nuvens estão suspensas com anjos e querubins.
A matança do porco, uma das muitas cenas da vida quotidiana representadas neste presépio de Machado de Castro da Basílica da Estrela.
Este é o presépio da minha infância! As suas figuras têm algo de naif nas formas e na cor. Na escola ou em casa, quando havia as queridas figuras, lá íamos nós ao musgo para fazer o presépio! Com algumas semanas de antecedência "semeávamos" as searinhas do Menino Jesus! Dias depois as sementes do trigo germinavam e as searinhas enfeitavam muito o presépio e simbolizavam o pão e portanto a garantia de alimento todo o ano. Não esquecíamos nunca de arranjar umas pedrinhas bonitas para fazer a gruta , simples e despojada onde o menino nasceu para nos salvar! As cores vivas e alegres das figurinhas transportam-nos a simples oleiros.... Outros presépios são obra de artistas! No seculo XVIII, Machado de Castro e António Ferreira fizeram lindos presépios de grande minúcia narrativa,onde toda a história bíblica é contada ao pormenor com delicadas e artísticas figuras muito bem feitas e pintadas! Aprecio muito este trabalho artístico que podemos encontrar na Sé de Lisboa, Na Igreja da Madre de Deus , na Basilica da Estrela... mas sinto uma ternura e encanto quando olho para as figurinhas de cores vivas e formas imperfeitas que povoaram os meus presépios e se mantêm na minha memória afectiva!