quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Natal na poesia Portuguesa

Andrea Mantegna

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
. Miguel Torga

4 comentários:

Anónimo disse...

Há lindos Poemas de Natal na nossa Literatura.
Este é um deles.
Beijo.
isa.

Mariana Ramos disse...

Lindo!
Bjs e até domingo!
Nita

Andradarte disse...

Conheço um poema de Torga, totalmente oposto...Gostei deste...
Até 17 então.
Beijo

leandro guedes disse...

Olá Alcinda
Belo poema este do Miguel Torga... Tal como o Andrade gosto mais deste e com a sua autorização vou publicá-lo no meu blog.
Feliz Natal para si, para todos quantos visitam este agradavel blog e que o Novo Ano seja para todos generoso, nas diversas facetas da vida.
Beijinhos Alcinda.